Enterro da Gata ’17 | Entrevista a Miguel Araújo

Enterro da Gata '17 | Entrevista a Miguel Araújo

Depois de ter vindo cá em 2014 e 2015, como foi regressar ao “palco minhoto”?

Espetacular! A última vez que cá estive foi precisamente há dois anos e foi a única vez que atuei afónico, coisa que geralmente nunca estou. Foi fixe e tal, mas estava ali rouco e não dei um espetáculo como queria, do meu ponto de vista. Hoje adorei, o público estava fantástico.

 

Em 2002 formaram-se os Azeitonas. Que influência teve a criação dessa banda ao longo da sua carreira?

Total. Se não fossem os Azeitonas, hoje não seria músico. Foi a minha entrada para o mundo da música e da composição musical. Eu não fazia música até entrar para os Azeitonas. Tomei o gosto e foi o princípio de uma caminhada que dura há já quase 15 anos.

 

Em 2012 lançou o seu primeiro álbum “Cinco dias e meio”. Desde aí, o sucesso tem sido sempre cada vez maior. Como tem sido lidar com todo este processo?

É “fixe” porque hoje em dia quem está no mundo da música não está pela fama. Quem está pela fama tem que ir para outras áreas. É ótimo quando o sucesso não traz fama, que é o meu caso. Eu tenho bastante sucesso na música, não vou ser falso e modesto ao ponto de dizer que não, mas não tenho fama. Por isso, lidar com o sucesso é ótimo e os nossos concertos estarem sempre cheios é um reflexo disso.

 

A canção “Os maridos das outras” ganhou bastante notoriedade, chegando mesmo a 4.º lugar do top português, sendo ainda hoje uma música bastante apreciada pelo público. Que motivações o levaram a escrever essa canção?

Sei lá! Não sei de onde vêm as músicas [risos]. Neste caso concreto, eu andava com uma música de Chico Buarque, chamada “Ciranda da Bailarina”, em que ele diz que toda a gente tem defeitos, algumas pessoas têm aftas, outras têm não sei o quê, e só a bailarina é que não, a bailarina é perfeita. Eu estava a tentar fazer uma música parecida com essa, em que toda a gente tem defeitos, menos os maridos das outras.

 

“Crónicas da Cidade Grande” é, segundo Miguel Araújo, “composto por músicas simples, que contam pequenas histórias”. Que tipos de histórias se podem lá encontrar?

São histórias de um “zé-ninguém”, uma pessoa absolutamente mediana, sem grandes feitos, e contar a história dessa pessoa, contar o antiépico, uma anti odisseia de uma pessoa que não tem odisseia nenhuma para contar, desde a ida às festas da aldeia, o casamento dele, a separação dos filhos, a Laurinha, que é a filha dele, que fumava, nada de especial.

 

“Balada Astral” fala sobre uma rapariga que havia de encontrar. Música dedicada ou pensada para alguém especial?

Por acaso acabei por enquadrar esta música na história do disco “Crónicas da Cidade Grande”, mas essa foi especificamente para um casal amigo, que ia casar e que me pediu para fazer uma música para o casamento deles. A música é uma fantasia, mas foi feita de propósito para o casamento deles.

 

Se pudesse dedicar uma música aos estudantes minhotos, qual seria?

Eu toquei um vira, fiz um vira para a Ana Moura, “E tu gostavas de mim”. Seria essa. Mas hoje a música mais sentida, o ponto mais alto, foi a “Anda comigo ver os aviões”, que é uma música que eu adoro, das melhores que já escrevi, e hoje foi incrível, toda a gente a cantar, e eu a filmar, nem sequer estava a tocar, o público todo a cantar… É essa que eu dedico ao pessoal!

 

Saiu dos Azeitonas devido a conflitos de agenda. Há alguma hipótese de voltarem a tocar juntos?

Sim claro. Essa pergunta perde um bocado o segredo porque em junho vou dar um concerto na casa da música (infelizmente não é aberto ao público, é para os convidados da câmara) e vai o Rui Veloso, a Catarina Salinas e os Azeitonas. Nós continuamos a tocar juntos sempre que calha.

 

Qual é a diferença entre tocar numa festa como o Enterro da Gata, e noutros locais, como coliseus, por exemplo?

Ah, é diferente. Aqui as pessoas não vêm por minha causa, vêm festejar a semana académica, e eu tenho de singrar de uma maneira em que tenho que me impor. Adorei hoje! Foi o concerto ao ar livre, e não sei se terá sido o concerto ao ar livre que mais adorei na minha vida, foi excecional!

 

Torceu muito pela Luísa e pelo Salvador Sobral. Acha que a vitória deles pode ter efeitos no futuro do concurso e da música portuguesa?

Muito, torci muito, foi das coisas mais incríveis da minha vida. Quanto à segunda parte da pergunta, é um bocado irrelevante face ao que aconteceu. A Eurovisão tem uma agenda própria e não me admirava nada que para o ano aparecessem pessoas a imitar o Salvador. Eu acho que aquilo que o Salvador fez foi muito superior ao festival da Eurovisão. Quem é que via o festival? Ninguém, aquilo é uma fantochada há anos, e o que aconteceu foi que, uma música portuguesa feita pela Luísa, tornar-se mítica à pala daquela história toda. Eu vibrei com aquilo. Dei por mim a ver o Festival da Canção, coisa que nunca fiz na minha vida, nem sei como funcionava. O que mais levo daquilo é a inspiração. Ainda ontem mandei uma mensagem à Luísa a dizer “Olha, obrigado, porque a simples imagem de ver o teu irmão e tu a cantar aquilo, foi inspirador.”. Eu tenho andado a dar melhores concertos porque aquilo me inspirou. Voltou a devolver uma certa importância à música. Foi uma coisa incrível, chorei com aquilo e tudo.

 

E que mensagem gostaria de deixar aos estudantes minhotos?

As músicas que deixem as mensagens por mim. Que cada um encontre o caminho da sua vida e que seja feliz.

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