Não é o aumento das propinas que retém os jovens em Portugal!

O Presidente da Escola de Economia e Gestão tomou posse há exatamente 19 dias, estava de parabéns…

Ontem, fomos surpreendidos com uma entrevista na ECO, o jornal económico digital, com a notícia de que o novo Presidente, Luís Aguiar Conraria, considera que as propinas devem ser aumentadas, “porque, com grande probabilidade, os jovens depois vão-se embora e não beneficiamos desse investimento”. Isto, face à enorme emigração de jovens que tem assombrado o país.

A Associação Académica da Universidade do Minho não compreende como é que um Presidente de uma prestigiada Escola da Universidade do Minho e do país (e todas as responsabilidades que são inerentes ao exercício do seu cargo) consegue defender publicamente este posicionamento e vem, desta forma, publicamente condenar a afirmação. 

O Ensino Superior e o seu acesso progressivamente universal é uma conquista de todos os Portugueses e da nossa Democracia e assume-se como o mais importante elevador social e económico das famílias, sendo, também, um importante promotor social e económico do país. 

Não podemos aceitar a retórica de quem confunde e tenta substituir o escasso investimento existente na Educação e no Ensino Superior pelos verdadeiros problemas que levam milhares de jovens a emigrar: o desemprego jovem, os baixos salários, os conhecidos problemas da habitação, o centralismo de uma economia presa nas duas grandes áreas metropolitanas onde o custo de vida é muitas vezes mais elevado que outras grandes cidades europeias, o sucessivo desinvestimento na ciência e na investigação que faz com que muitos tenham de prosseguir os seus projetos no estrangeiro, bem como a falta de oportunidades em geral para os jovens e vários outros velhos problemas já conhecidos.  

Não é erguendo muros mais altos e barreiras que deixam deliberadamente mais pessoas excluídas do sistema que resolvem os verdadeiros problemas do país! E o caminho trilhado, ainda que mais demorado do que o suposto, não deve ser revertido. 

Ora vejamos:

* O Ensino Superior, em 2021, representava 1,1% da riqueza nacional. Segundo o estudo da “Government at a Glance 2021”, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, Portugal investe menos de um terço do que outros governos internacionais no Ensino Superior e quando olhamos para percentagem do PIB o resultado revela-se ainda mais preocupante, uma vez que destina aqui apenas 1,1% da riqueza nacional, colocando-se a 0,4 pontos percentuais abaixo da média da OCDE.

* Já o estudo “Government at a Glance 2011” mostrava que cada diplomado, em Portugal, devolvia à sociedade um retorno mais de seis vezes superior àquele que o País investiu na sua formação. 

* Felizmente, e como muito ouvimos, somos a geração mais qualificada de sempre, mas infelizmente, somos aquela com menos acesso a emprego e a condições de início de vida. Segundo um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos de 2023, nunca houveram tantos jovens com o Ensino Superior, no entanto, Portugal é o sétimo país da UE com maior taxa de desemprego jovem, afetando um em cada cinco jovens no mercado de trabalho.

Assim, pretendemos não apenas condenar as palavras infelizes do Sr. Presidente da EEG, mas também sensibilizar aqueles que consideram o investimento na educação e formação dos cidadãos como um ativo perdido. Num momento em que lamentavelmente observamos o aumento de conflitos armados pelo mundo e o crescimento global de tendências extremistas e populistas, é essencial compreender que a educação é o principal instrumento no combate à pobreza, ódio e desinformação. Cada euro investido na educação contribui para um país e um mundo melhores, tanto em Portugal como a nível global.


Sr. Presidente da Escola de Economia e Gestão, a retenção de jovens em Portugal e a retenção do investimento do país no Ensino Superior, passa por medidas de fixação de jovens, tema que poderia merecer muita reflexão e estudo, e não pelo aumento da propina! Este poderá, simplesmente, dificultar o acesso ao Ensino Superior ou antecipar a emigração!

P’la Direção da Associação Académica da Universidade do Minho

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